Falar, para além de uma função organizadora, tem uma função social. Nunca entendi direito porque eu não me dava muito bem no social; essa é uma construção que ainda estou fazendo. Quando se fala, espera-se do outro uma resposta ratificadora daquilo que se disse (e aqui, ratificar não necessariamente quer dizer concordar); a questão está é que esta espera, é do Outro que esperamos, do nosso próprio eu-social. E aí está todo o trabalho do analista, o de não responder dessa posição alienante, mas de Outro lugar.
Quando a resposta que as pessoas esperam não vem, é um vazio que é devolvido... isso tem a ver com a construção de que eu falava: minha resposta sempre foi o silêncio. Hoje em dia, ele não está mais tão presente, o que me coloca em outro problema: como responder sem esperar um envolvimento daquele que fala com o que ele fala? E mais, como não me envolver com o que é dito?
Li alhures que a psicanálise é uma peste. Concordo. Uma vez experimentada, não há como dela sair, não há mais como falar sem nada dizer, não há mais como alienar-se a uma fala vazia. O que se espera é outra coisa, aquilo que se chama um sentido pleno.
Falar é, mais do que tudo, uma relação sexual, naquele ponto de uma relação possível, já que ela inexiste.