27 de out. de 2011

Ainda sobre o Amor

Lacan, no Seminário 8, aponta uma articulação entre amor e desejo; para ele - e se usa de um texto de Platão para tanto - o amor só existe onde exista um amante, aquele que deseja, e um amado, aquele que é desejado. Há que se fazer um apontamento na direção da falta, o desejo demarca isso. O amante é aquele a quem falta - pois que deseja; além, ao amante falta saber o que lhe falta; o amado seria aquele que tem o que ao amante falta, porém, este não sabe o que tem. Por isso, à pergunta 'o que vc ama em mim?' não há resposta, já que uma vez nomeado o objeto - ou agalma, como aparece no texto - este passa a não ser mais, sempre será outra coisa (o desejo é movediço e nos escapa à significação).
Neste sentido, a psicanálise avança um passo, pois à demanda de amor do paciente, o analista não tem saída: ele sabe que não tem. O analisado busca saber o que tem e direciona uma demanda de saber para o analista; à esta demanda, o que encontra é uma falta. A falta, por sua vez, remete ao desejo - isso articula a passagem da demanda de saber à demanda de amor.
Daí a fórmula de Lacan: 'amar é dar o que não se tem'.

19 de out. de 2011

O Amor

Escolhi um título pretensioso. Pretensioso porque sei que não posso falar sobre este tema. O Amor, devo dizer, tem-me fixado a atenção por estes dias; do ponto de vista teórico, tendo a confessar que está mais claro como pode ele ser o único sentido da vida.
Sentido, eu no passado. E este é um delírio de luto; e com o luto não se luta, deixa-se abater para depois retornar.
E esse depois, é só no agora que poderá ser vivido. Por ora, é só depois que poderei viver no agora. Por ora só posso apreendê-lo, esse amor, fora da experiência. Não posso experienciá-lo. E não posso justamente porque quero. Maldita dialética do desejo, que coloca no futuro o que só pode ser vivido no hoje.
"Sinta o vento, veja a cor! Se acomode, tome jeitos; vá ao médico; não pense no agora; pense no agora; não problematize, deixe como está!". Todos estes conselhos, mando todos eles à merda - em minha cabeça, pois que ainda não me desvencilhei de uma educação católica e tenho dedos com palavrões.
Que me desculpem os românticos, mas que eu os abomino. Abomino e tenho inveja - não uma 'invejinha boa'. Tenho uma inveja galopante, porque vejo ali o que um dia eu fui, o que não posso ser mais. Não hoje, nem amanhã. Depois de amanhã, que é outro termo para 'não existe'.
Por esta altura eu paro, já que o delírio está demasiado cansativo. É, o amor é delirante e demasiado cansativo.