6 de fev. de 2010

Vamos todos dar as patas

_Então quer dizer que o bicho pensa?_ morria em gargalhadas João, operário e ateu, adepto ao cepticismo desde que se reconheceu. As aulas de catecismo a que fora obrigado a ir não haviam tirado a dúvida da sua cabeça e desde então começou um balé, pulando de crença em crença, de clube em clube, buscando por algo... que nem ele mesmo sabia o que era. E no final era isso, João apenas não conseguia acreditar em nada. E a descrença servia-lhe como escapatória da angústia da dúvida, pelo menos em parte.
Naquele dia em que ouviu o colega falando sobre como um cão tinha para ele mais valor que um amigo, que o cachorro amava incondicionalmente e fazia de tudo para o dono se sentir a pessoa mais importante, a estrépita gargalhada não lhe foi possível segurar. Não que nunca tivesse ouvido isso, mas é que agora percebia o fundo de sentido que isso continha.
Mas João estava acostumado; pegou suas coisas, a caixa de ferramentas e saiu silenciosamente, sem esperar resposta. Já as tinha todas. E acreditou febrilmente nelas.