11 de jan. de 2012

E a análise?

Vivem me perguntando para que serve uma psico-análise. Eu sempre fico em dúvida do que responder, de como responder porque, confesso, sinto um pouco de vergonha - não sei por que - em dizer que uma análise serve para aprendermos a 'amar melhor', como se expressou lindamente alguém. E acho que meu titubeio advém de saber que o amor é uma tentativa de dar conta da diferença sexual, da impossibilidade do rapport sexual entre os seres. E, sendo uma tentativa de dar conta, é uma amarração; isso equivale a dizer que o amor é também ele um sintoma. 
Ama-se um outro na esperança de que, de dois, se possa fazer Um. Isso é bem bonito de se dizer, mas é impossível de se realizar. E é só depois que nos damos conta disso que podemos dar um desdobramento melhor pras nossas relações, porque aí não existe mais um ato iludido, mas com responsabilidade. Sair do 'me complete' e ir para o 'me suplemente', é a isso que se deve chegar.
Responsabilizar-se pelo que se deseja é assumir o que somos, assumir esse significante que somos diante do outro, para-ser, enfim, o que não pudemos ser até ali, e não mais para-esser - 'parecer' - no semblante onde estivemos.
O que dizer? O mundo é mesmo uma linda foda mal dada. E tenta-se loucamente substituir o impasse da diferença dos sexos pelo amor. Amor que é... o que era mesmo que eu ia dizer? Ah! Como eu amo as criptografias...
(...)Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem(...)

(... )O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas, pretas, amarelas.
Pra que tanta perna, meu Deus?
Pergunta meu coração.
Porém meu olhos 
não perguntam nada (...)

Meus olhos apenas olham toda a movimentação, pessoas indo, pessoas vindo... pra onde, não se sabe. Mas meu coração está inquieto. E inquieto todo o meu corpo, minha carne que, sabendo-se viva, não pode saber-se mais do que isso.
Em todo saber insiste um limite e, por ora, o que sei é que palpito. Nada mais. E o nada faz-se tudo.