5 de mai. de 2017

Sobre o abandono do objeto e a identificação

No meu casaco preto de lã tem uns pêlos de um animal que não é meu. Eles não estavam há duas semanas atrás, mas já estiveram antes: outro bicho, cores e tamanhos diferentes mas, essencialmente, os mesmo pêlos. Me repeti já tantas vezes nessa sensação de ter me apropriado de partes não minhas, de ter levado embora cacos e restos de outros, que não tenho certeza de quais são os meus pertences. Quero dizer, estes pêlos aqui, que só consigo enxergar em suficiente claridade, pertencem agora a mim? Devo me livrar deles, devolver ao possuidor original, ou só apagar as luzes?

3 de mai. de 2017

A um amor de outono

Menos de 3 dias e, seguramente, 3 noites inteiras. Esse foi o tempo do nosso amor, que prefiro descrever como trágico, embora tenha sido maravilhoso. Depois, uma semana de conversas apaixonadas, declarações, juras e, por fim, vácuo. Te escrevo pra dizer que minha mudança repentina se deve ao fato de que estou eu mesmo mudando e (meu deus!) - como estou confuso - preciso de um tempo. Na verdade, minto; não estou mudando, apenas me enganando. Mas nada disso importa, o que é importante e eu quero que você saiba é que não suportei me ver tão nítido em você, preciso de um oposto para continuar me enganando. Isso e mais o fato de que tenho medo de me machucar; eu sei que parece meio cliché, meu bem...e eu até tentei inventar mais uma nota de rodapé nessa página, te dizendo que tinha medo de machucar você, mas a edição não foi concluída e ficou assim, sem nota mesmo. Eu tenho tantos problemas na minha cabeça e, de alguma forma (a mais louca possível), eles me dão motivo pra continuar essa minha vidinha; disso eu também tenho medo, de ser feliz, mesmo que eu repita muitas vezes que um dia quero ser. O que seria de um homem sem os seus problemas? Meus problemas são os meus culhões. Tenho tanto medo que ele se materializa no meu corpo, você viu. Mas não posso me desnudar tanto, não posso me encontrar tão vulnerável, pois que prefiro viver perdido. Perdido, meu amor, assim como nós. Não me julgue, guarde as coisas boas; é só lá que elas podem ficar, as boas coisas, na lembrança; assim elas se farão sempre presentes, mesmo ausentes.