25 de fev. de 2017

Tenho em mim um ódio dilacerante. Principalmente pelas pessoas que me amam. Tenho ódio porque elas me fazem humana, à medida que me colocam essa miragem de poder conter-se no outro; tenho ódio porque me vejo, de relance, através delas e o que vejo, bem...é mal. Odeio todas as gentes que me fazem sentir a dimensão do desfalecimento, naquele ponto onde não consigo mais suportar porque não me alcanço. Nessas situações, tento colocar nomes que expliquem a aflição, mas não há nomeação no mundo capaz de traduzir aquilo que ultrapassa essa linha, de até onde já fui antes. E nessa fronteira imaginária, entre eu e o outro, existirá sempre um terreno onde nunca poderei pisar.

24 de fev. de 2017

Ramona (réplica)

Você notou como as velhas de coque gris sempre usam grampos de cabelo maiores e mais dourados?
Até hoje nunca encontrei ramonas como aquelas.
Notou que, quando você compra uma caixinha de ramonas, elas vão lentamente desaparecendo? Atrás da cama, embaixo do carpet, dentro da gaveta...cinquentacemmil ramonas, não importa, sempre que precisar de uma, terá que buscar na caixa (se ainda restar alguma).
Acho que comprar ramonas é isso: saber que elas se perderão para sempre. Eventualmente, poderei encontrar alguma, mas que não servirá sozinha.
Tenho pressa de usar coque grisalho e descobrir o segredo de onde encontrar ramonas que não desapareçam.