22 de fev. de 2011

O Menos-um fora do redemoinho

Falar sobre o Gozo tem algo meio de impossível - não era bem essa palavra que eu queria usar, mas na falta de uma melhor, uso-a. Quando se consegue, é sinal que a coisa anda boa.
Como é que se pode estacionar e não ser mais transitório? É a pergunta que tenho me feito... aliás, ando falando em primeira pessoa - e numa segunda também, mas que não é um 'tu', é 'umaoutraeumesma' -, não tenho mais idéias pra inventar contos.
O Gozo é um redemoinho, como aqueles vídeos que as pessoas gravam no meio dos tufões, dos furacões que ameaçam o câmera-man; você vê ele ali pertinho, quase encostando e, mesmo que a morte também esteja quase encostando, o cara continua ali, filmando, meio que hipnotizado por aquela cena. Talvez seja isso, uma cena que te hipnotiza e te mantém ali, parado, petrificado, esperando pela morte que nunca vem. Soou pesado essa da morte, né? Porque sabemos que ela vem. Agora ou depois. Mas no Gozo, tem algo de contraditório entre esperar pela morte e pela não-morte; porque parar é ter medo de morrer, mas ao mesmo tempo é morrer.
Parados, sabemos que ainda temos todas as chances do mundo. Em movimento, sempre há menos uma chance. De dar certo; de dar. No Gozo, de movimento mesmo é só a repetição. E ali, estamos protegidos do mundo, mas sob ameaça de nós mesmos.

9 de fev. de 2011

Felicidade

Felicidade é, por um momento, se sentir completo. Pretenso dizer isso, uma vez que digo de uma impossibilidade: ser completo.
Somos seres de muitos furos e vivemos de uma nostalgia, daquilo que nos foi um dia tudo, do tudo que um dia fomos.
Por isso nunca é o bastante. Não nos basta só fazer sexo, há que ser com aquela pessoa, a que me agrada, a mais bonita, a mais gostosa; não nos basta a nutrição por ela mesma, há que ser aquele prato tal, aquela bebida tal, naquele lugar tal.
Mas há momentos em que podemos nos encontrar com essa sensação dita felicidade: é quando descobrimos o que, para nós e somente para nós, é importante; aquilo que nos faz bem e que não nos estaciona. Um nome e uma cara de pau tremenda, pra assumir.
Ser feliz é um ato solitário, assim como é solitário viver.

1 de fev. de 2011

A dor de viver/a dor de morrer

Destroçado, o olhar de Luci, antes cheio de ilusões, é agora um mar de aflição. Sentada na areia, sobre um castelo que vai se desfazendo, ela assiste o baile de vento e ondas que batem nas pedras furadas, desgastadas pelo tempo. Nem as pedras resistem, ela pensa. Ao menos lá, onde as ondas batem, é um disfarce perfeito de esconder lágrima.
E os pensamentos são palavras que rasgam a garganta, ela grita. As palavras todas na boca, ela cala. Seu corpo imóvel é morada de uma dor tátil. Luci deseja, impotente, bailar o baile de vento e ondas, deixar à mostra também ela seus muitos furos, seu corpo despedaçado. A doçura do mar chama. Imersa, Luci ainda consegue tatear sua dor.