29 de set. de 2016

Sofro de um passado pendente, pungente.
Mania de dizer que o tempo apaga. Acaso não são as lembranças que machucam, ainda que delas não nos recordemos?

21 de jul. de 2016

Um conto para Marcelo

Marcelo, não queria te dizer, mas estou subtraída de mim mesma.
Tudo o que eu sabia de mim agora não importa mais. Meu desejo foi obliterado pelo seu. Meus dedos, se pudessem pensar, não pensariam outra coisa que te tocar. Na sua ausência, eles me tocam, mas não é a mim, é a um corpo estranho feito de pedaços daquilo que ainda insiste em não desaparecer da memória (sabe que quando se gasta muito uma lembrança, ela se apaga, né, Marcelo?).
Não queria te contar nada disso, mas esses mesmos dedos querem te tocar também com palavras. Essas palavras que sempre nunca descrevem o completo da experiência.
Mudei-me de mim, sem perceber. Pra fazer morada na sua pele. Deve ser isso que quer dizer "estar na sua".

1 de jun. de 2016

A bolha e sua magia de conter o vazio, e de respingar no instante o resto do passado.

9 de mai. de 2016

um sujeito eclipsado
resolve pousar no meio da sala.
de lá de onde não pode se ver
o sujeito agoniza no esquecimento.
o eclipsamento do sujeito
se deu por razões ainda não conhecidas.
sabe-se apenas que foi destituído
da capacidade de querer.
quiseram consertar o sujeito
dar-lhe explicações prontas para vestir.
ofertaram-lhe algumas técnicas
que se diziam tiro e queda.
foi assim que o sujeito foi abatido
restam agora pedaços finos e leves
que se quedam no ambiente.
como o elefante, o sujeito embaraça
por não saber de onde nem como nem por quê
se encontra desarmado.
o rubor aquece o sujeito
que pode agora costurar novas peças
no seu sobretudo de marfim.