2 de abr. de 2013

Cassandra

Diz-se que quando a ilusão acaba, se sofre. E quando não se tem ilusão nenhuma? Quando se acredita que não é mais possível enganar-se e algo vem e nos acerta, algo nos irrompe e, nesse sentimento, se descobre que a luta é para manter a ilusão viva, pois que sem isso morreríamos?
Nossas conexões são evanescentes, por isso escrevo, para provar que o que passa, não é bem que passe sem antes nos causar uma tempestade. Passou; passou um furacão levando e trazendo coisas.
Tento me enganar que não estou sozinha, que quem me acolhe não o faz com base nas escolhas anteriores. Tento me enganar que eu estou livre desses artifícios. Tento apagar tudo o que me traga a sensação de que não sou eu que estou ali, senão a representação de algo que - meu deus - nem em mim estava! mas me foi posto, porque apagando isso, apago também a certeza de que não sou para o outro além de uma imagem, e de que o outro não é também ele um espelho nu.
Nu no espelho, é como me sinto. Pintando ali uma roupagem menos 'carne, menos 'pele', mas também menos verdadeira. Carne, pele e verdade são quase antinaturais. Mas, desde que avistadas de relance, já não podem ficar de fora do circuito.
Se sofre de força. Da força que se faz para manter a ilusão.