18 de fev. de 2022

Tem um gato que fica arranhando a porta do meu quarto de bagunça. Todo dia ele senta de frente pra ela e desfere umas patadinhas obstinadas e constantes, quase rítmicas. Parece que esse gato gosta é de caçar encrencas. Talvez encrencas sejam o novo whiskas, mais macias por terem sido curtidas ao sabor do tempo e ganhado notas de envelhecimento precoce. Talvez o problema sejam os gatos de casa que, não podendo caçar coisas mais interessantes, precisam se contentar com emoções menos saborosas. A questão é que às vezes ele consegue entrar lá, assim, quando a porta tá meio entreaberta. Ele entra e fica se esfregando nas bugigangas. Eu acho que esse gato tem um fetiche sadomasoquista. Um fetiche felatório, lambe-lambe. Mas o problema mesmo é que quando ele tá lá, as coisas ficam todas mais bagunçadas, todas molhadas, todas arranhadas. E quando ele sai, dá o maior trabalho pra voltar tudo pro lugar. Eu queria assim, ser uma Marie-Kondo dos quartos de bagunça, pra não ter que ficar trancando a porta. Agora mesmo, aquele animal tá arranhando e eu não consigo dormir. Não me resta muita opção a não ser deixar ele entrar. Um dia eu quero, tipo, não ter quarto nenhum de bagunça nenhuma de gato nenhum.