31 de ago. de 2015

Um conto para Maurício

Maurício não gosta de intimidade. Maurício é distante, ausente, diferente. Pegar na mão, nem pensar. Acompanhar no teatro nem pensar.
Maurício é muito macho, gosta de futebol, boteco e foder selvagem. Homem como Maurício, só existe ele mesmo. Homem com um culhão a mais.

Maurício não sabe que precisa que lhe falte um dos culhões.

Ah, Maurício, nem te conto. Nem te conto o que penso de você. Não consegue ouvir o vento batendo e fazendo barulho ao passar pela brecha? Mas eu consigo ouvir bem lá no fundinho, o sibilo do seu. Desejar sem saber.
Se não tivesse uma falha aí, meu sopro não encontraria saída em você para se tornar suspiro.

2 comentários:

Marcos Filho disse...

Fiquei mais atraído na falta da falta de Maurício. Parece algo como vestir uma camiseta ao contrário e de ponta cabeça. Como uma imagem que você me mostrou uma vez de um caminho de formigas que passava por trás de si mesmo, tipo uma impossibilidade física.

Pensei também se não dá para um homem como Maurício não ser um homem como Maurício. Acho que dá para ele gostar de intimidade, pegar na mão e ir no teatro e mesmo assim insistir que é completo. Fica desagradavelmente familiar demais.

Agora que li de novo notei a personagem principal. O que ela quer com a brecha do Maurício? Ela quer ouvir o sibilo? Soprar na falha dele e sair suspiro?

Vani disse...

A pergunta que faz é o que Freud pergunta há muito tempo: 'afinal, o que quer uma mulher?' Difícil saber, já que a maioria, elas mesmas, não sabe...é preciso que ela se interrogue primeiro.
Interessante a sua lembrança da figura das formigas, porque é a capa do Seminário 10, 'a angústia' que, segundo Lacan, é resultado da falta da falta; muito provavelmente, o Maurício é um ser angustiadíssimo, rs...