21 de jul. de 2016

Um conto para Marcelo

Marcelo, não queria te dizer, mas estou subtraída de mim mesma.
Tudo o que eu sabia de mim agora não importa mais. Meu desejo foi obliterado pelo seu. Meus dedos, se pudessem pensar, não pensariam outra coisa que te tocar. Na sua ausência, eles me tocam, mas não é a mim, é a um corpo estranho feito de pedaços daquilo que ainda insiste em não desaparecer da memória (sabe que quando se gasta muito uma lembrança, ela se apaga, né, Marcelo?).
Não queria te contar nada disso, mas esses mesmos dedos querem te tocar também com palavras. Essas palavras que sempre nunca descrevem o completo da experiência.
Mudei-me de mim, sem perceber. Pra fazer morada na sua pele. Deve ser isso que quer dizer "estar na sua".

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